sábado, 7 de março de 2009

Rio avança em pesquisas com células-tronco

Créditos à Vilma Homero/Ascom Faperj

Rio de Janeiro

Quando o assunto é células-tronco e o enorme potencial de possibilidades terapêuticas que elas significam, o Rio de Janeiro abriga um grande número de pesquisas. No Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, desenvolvem-se dois estudos diferentes, e um terceiro toma forma na Coppe (Instituto Luiz Alberto Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia).

São todos complementares e têm a participação do pesquisador Stevens Rehen, do Programa de Neurociência Básica e Clínica do ICB/UFRJ. Cada um desses estudos já é, em si, revolucionário: em um deles, desenvolve-se a técnica japonesa de reprogramar células do organismo para que elas venham a se tornar pluripotentes. Ou, em outras palavras, capazes de se tornar tecido de qualquer parte do corpo. E, espera-se, com futura aplicação biotecnológica e terapêutica em um sem-número de problemas.

As células pluripotentes induzidas, ou iPS (do inglês induced pluripotent stem cells), são em tudo semelhantes às células-tronco embrionárias e poderão atuar como tal. Embora siga o protocolo japonês para produzir as iPS, Rehen introduziu algumas modificações na técnica. Para começar, diferente do método original, que emprega fibroblastos (células da pele), o pesquisador usou células renais humanas para fazer a reprogramação.

E também utilizou o ácido valpróico, reagente que facilita o processo de reorganização do DNA.

- Esses resultados poderiam ter sido obtidos na metade do ano passado, o que não ocorreu devido a problemas burocráticos para a importação. Algumas solicitações para aquisição de reagentes levaram mais de nove meses até que o produto chegasse às nossas mãos - lamenta o pesquisador.

A equipe de Rehen realizou paralelamente a experiência tanto com células humanas quanto com as de camundongos. O processo propriamente dito foi realizado em etapas, tanto num caso quanto no outro. Mantidas em cultura, as células receberam genes embrionários em seu DNA, o que é feito por meio de vírus atenuados, produzidos em laboratório.

É aí também que reside um dos maiores desafios à técnica. São necessárias cinco cópias de cada vírus para que ocorra a reprogramação. "Começamos com milhares de células, algo em torno de 250 mil para conseguirmos de 40 a 50 colônias com características das células pluripotentes. Dessas, selecionamos duas linhagens reprogramadas, uma humana e outra de camundongos", explica o pesquisador.

A médio prazo, a principal aplicação das iPS está no auxílio à identificação de medicamentos.

- Podemos, por exemplo, reprogramar células da pele de um paciente para em seguida transformá-las em células do coração e empregá-las para identificar novos medicamentos com potencial na recuperação de cardiopatias. Assim, poderíamos avaliar a eficiência específica de certas substâncias para determinado paciente em uma placa de cultura. É uma considerável redução de riscos - explica.

A criação das células reprogramadas só foi possível graças a uma parceria entre o grupo de Rehen no ICB/UFRJ e Martin Bonamino, pesquisador do Instituto Nacional do Câncer (Inca). O trabalho contou ainda com a participação dos estudantes de pós-graduação Bruna Paulsen e Leo Chicaybam.

Outra pesquisa em curso está na aplicação de biorreatores para multiplicar células-tronco, sejam elas embrionárias ou iPS. A ideia é promover a produção em larga escala, capaz de alimentar os mais diversos laboratórios no país.

- Na verdade, o modelo clássico de biorreator busca a produção de substâncias secretadas por células (biofármacos). Nossa pesquisa apenas está adaptando essa tecnologia para que o produto final seja a própria célula viva, no caso células-tronco", explica. Dessa forma, pode-se chegar a um resultado 70 vezes maior do que o obtido pelo método convencional.

- Além disso, consegue-se também maior rapidez, custos menores e menor possibilidade de contaminação - diz.

A pergunta agora é se, com a técnica, as iPS e as células embrionárias genuínas se multiplicam na mesma proporção.

- Estamos falando em milhões de células. Agora vamos comparar se a produção em grande escala é equivalente nos dois casos. Esperamos ter essas respostas em dois anos - planeja.

A utilização de biorreatores para o cultivo de células-tronco é uma parceria entre o grupo de Rehen no ICB/UFRJ e Leda Castilho, pesquisadora da Coppe/UFRJ, que conta com a participação dos alunos de pós-graduação Aline Marie Fernandes e Paulo André Marinho.

Nesse meio tempo, paralelamente, outro trabalho está sendo desenvolvido. Rehen e sua equipe estão testando a atuação de três diferentes tipos de células-tronco: as embrionárias, as iPS (originadas da pele) e as extraídas de polpa de dente para tratamento da doença de Parkinson. Os pesquisadores comparam os três tipos procurando identificar qual deles será o mais eficaz para o tratamento da doença em modelo animal.

- Já sabemos que células derivadas da polpa dentária secretam fatores que favorecem a sobrevivência de células-tronco embrionárias transplantadas - fala o pesquisador.

O desenvolvimento do modelo pré-clínico da Doença de Parkinson é uma parceria entre o grupo de Rehen e de Jean-Christophe Houzel, neurocientista do ICB/UFRJ. O trabalho conta com a colaboração de pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF) e a participação do aluno Fabio Conceição.

Essas células estão sendo aplicadas em modelos animais, nos quais foram induzidos os sintomas da doença.

- Nos Estados Unidos, os primeiros testes realizados em humanos com células-tronco embrionárias começaram esse mês. Serão testadas em pacientes com lesão de medula espinal. Acredito que em cinco anos, saberemos se o potencial terapêutico de células-tronco embrionárias, observado em animais, é uma realidade - diz.

Para Rehen, igualmente importante é saber que todos esses trabalhos de cientistas brasileiros contribuem para reduzir a distância entre a pesquisa que é produzida no país e a de países de Primeiro Mundo.

- Estamos cada vez mais competitivos.

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